10.14.2004

PLE apresenta - A verdadeira história de Manuel da Silva -parte IV

A verdadeira história de Manuel da Silva - parte IV


A maçã envenenada:


Madalena vivia um momento único de acalmia, de paz. Pela primeira vez desde o fatídico regresso da viagem de finalistas, as vozes que lhe ditavam o destino estavam finalmente de acordo:
- “Mataste-o. Venceste.“
Que mudança dos pregões beligerantes e mortíferos de há pouco tempo atrás:

- “Aquele burgesso. Aquele telemóvel... foi ele! Tudo por culpa dele!“
- “Sim, foi aquele cão, era dele o telemóvel, e foi por causa dele que o avião caiu!”
- “Ele não merece viver! Morte!”
- “Sim! Morte!”
- “Morte ao cão!“
- “Não há outra solução! Acaba com ele! O fim dele é o teu princípio... Mata-o!”
- Mas como?! - respondia Madalena
- “Ele confia em ti...“
- “Sim!!!!!”
- “Sim! Da próxima vez que ele te vier consultar sobre os astros dá-lhe a maçã da árvore do Diabo.”
- “Pois! Isso mesmo! A maçã da árvore do Diabo. Como é que eu não me lembrei disso antes!!!“
- “És mesmo estúpido! Não se estava mesmo a ver?! Só podia ser a maçã”
- “A maçã!”
- “A maçã do demo... Só ela mata sem deixar rasto!”
- “Perfeito! Bom plano!”
- Mas como o faço comer a maçã? Ele gosta é de doces... Não, não o quero matar...
- “Não sejas totó! Mata o cão!“
- “És mesmo burra! Não vês que é a única maneira de seres feliz?”
- “Tens de o matar!“
- “Quando lhe deitares as cartas diz-lhe que os astros o aconselham a comer fibras. Mas não uma fibra qualquer.“
- “Sim! Boa!”
- “Só na Tailândia se encontram as fibras que ele precisa. Nas maçãs que nascem numa falha sísmica propícia para o desenvolvimento dessa fibra tão especial e milagrosa “
- “Sim, só lá!“
- “Boa tanga!”

Apesar de calmas, as vozes não se calavam. Madalena não se queria lembrar, mas elas não a deixavam.

- “Olha bem pra esse palerma... devias arrancar-lhe os cabelos.”
- “Sim! Puxa! Puxa!“
- Psiu... – diz Madalena para as vozes dentro de si. – Deixem-me em paz! Não o devia ter envenenado. Ele não era assim tão mau. Vocês é que o pintaram mau aos meus olhos. Eu não queria... eu não queria...
- “Cala-te, oh betinha, ninguém te perguntou nada!“
- “Iá man, tens razão! Cala-te!“
- Vocês não me entendem.... – suspirou Madalena
- “Não digas que não gostaste de o ver estrebuchar!“
- “Foi a tua mão que lhe deu a maçã. Tu!“
- “Dizes que não querias mas quando o viste entrar na sala começaste-te a sorrir. Estavas a gostar?“
- “Gostas pouco, gostas...“
- “E quando ela se largou a rir quando ele puxou o lustro à maçã, convencido de que seguia um conselho de uma boa amiga...”
- “Boa amiga me saíste!”
- “Com amigas assim quem precisa de se preocupar em arranjar inimigos...“
- “Coitado do Manuel...“
- “Pois, coitado... quando cortou a maçã ao meio nem sabia que estava a cortar o seu tempo de vida... “
- “Sim... e quando ele a trincou? Via-se que nunca tinha comido nada tão bom.”
- “Pois é. Até te agradeceu...”
- “Tal como tu agora lhe acaricias a cabeça, também ele te tentou acariciar, através da câmara.”
- “Quem é que o mandou aceitar um presente duma gaja que ouve vozes? Estava-se mesmo a ver que só comia metade...”
- Pois é, era mesmo estúpido aquele gajo. Ainda bem que resolvi acabar com ele. Afinal de contas foi ele que matou os meus colegas. O único elogio que lhe posso fazer é ter tido a ideia de montar estas câmeras. Para o poder ver a morrer... Ah Ah Ah!
- “Ah Ah Ah Ah” – riram as vozes num coro sinistro.