10.22.2004

PLE apresenta : Onrop - O espelho: Smack my bitch up (editors cut). The middle act

Onrop - O espelho: Smack my bitch up (editors cut)
a parte do meio


A sala de jogos

Já tenho as malas feitas e o material pronto para carregar. Duas grandes mochilas cheias de discos e roupa, não preciso de mais nada. Saio à rua deixando a casa desarrumada. A minha mãe há-de vir visitar-me, será ela a fazer esse serviço – se quiser, pouco me importa.
Na rua sinto todos os poros do meu corpo. Todos os meus pêlos se levantam, apontando em todas as direcções, fazendo com que me incomodem agradavelmente todos os raios de sol, brisas, sons mecânicos, humanos ou selvagens. Paro diante a uma loja de animais. Parece, que de dentro das jaulas, me pedem auxilio, o que me faz ficar imóvel perante aquela montra, como que mantendo um diálogo, durante um longo período de tempo, infindável. Um alarme de um automóvel chama a minha atenção. Quando viro a face vejo tudo em pequenas quadrículas. Apavorado refugio-me de novo na montra. Já não estão lá os animais, vejo apenas o meu reflexo, as pupilas dilatadas, a face suada, pálida, alucinada.
Largo a correr pela rua, dando encontrões a quem se intromete no meu caminho. Apesar de estar na minha rua não reconheço nada, ninguém. Voo pela estrada. Oiço uma travagem e um estrondo antes de cair com o ombro sobre o passeio. Um homem sai do automóvel, que derrubou uma cabina telefónica, gesticulando e gritando furioso:
- Olhe bem para isto. Se você se quer matar, faça-o em casa, sem meter outras pessoas ao barulho. Agora não sai daqui. É você que vai pagar todos estes estragos.
Antes que a multidão se apercebesse do que se tinha passado, e aproveitando a distracção do homem em verificar os estragos do seu veículo, sem se preocupar com o meu estado, fujo. Corro sentindo a batida cardíaca a acelerar, soando cada vez mais alta, insuportável. Sinto que estou livre de perigo e entro na primeira porta aberta que encontro.
A sala escura encontra-se praticamente deserta. Há direita três mesas de snooker, do lado esquerdo cinco máquinas de flippers seguidas de um balcão e algumas máquinas ao fundo. Atrás do balcão está um velhote alto e magro, a barba branca por fazer, com olhos fundos, muito fundos, praticamente fechados. Peço-lhe para trocar uma nota para jogar um jogo de flippers e só então reparo no grande espelho atrás do homem. Nele vejo a minha camisa suada e o cabelo despenteado, completamente encharcado.
- Pode usar a casa de banho. – diz o velhote sorrindo e apontando em frente, para a porta atrás das mesas de snooker, estendo a chave em simultâneo.
Ignoro-o e dirijo-me para os flippers, entrando nessa altura uma rapariga. Caminha lentamente, quase parada, remexendo a sua mochila. A sua pele é muito branca e parece brilhar sobre as vestes negras, da cor do seu cabelo longo e apanhado atrás. Da mochila retira uma moeda que deixa cair para vir rolar debaixo da máquina onde jogo. Só então os seus enormes olhos azuis me encontram para me pedir com um sorriso envergonhado:
- Desculpa. Dás-me licença para eu poder tirar a moeda?
Na sua voz noto alguma fragilidade. Uma espécie de lamento mascarado de simpatia, com um olhar pensativo.
- Espera só um bocado. Não quero perder a bola que acabei de lançar.
Continuo a jogar e rapariga não tira os olhos de mim, até que pergunta:
- Tu não és baterista nos Hematoma Pulmonar? És, não és?
Respondo positivamente e perco a bola, pontapeando de seguida os flippers. Apanho a moeda, que entrego, havendo um toque inevitável de mãos seguido de um agradável arrepio, notando na sua cara a partilha da mesma sensação. Claramente incomodada segue o seu caminho para o fundo da sala, onde escolhe um jogo de vídeo para jogar.
Dirijo-me ao balcão pedindo a chave da casa de banho ao velhote, que amavelmente me entrega, e no momento que entro reparo que o velhote sai detrás do balcão. A casa de banho é minúscula, mas limpa, tendo apenas um lavatório e uma sanita. Lavo a cara e ainda sinto a cabeça cheia de ácido. Mergulho a cabeça no lavatório que enchi de água, deixando-a totalmente submersa durante uns instantes, até sentir o apalpar de uma mão em direcção às virilhas. Repentinamente viro-me para trás vendo o velho retirar uma mão, tendo a outra mão dentro do bolso.
- Não me digas que não estás a gostar? Conheço muito bens as pessoas da tua laia!
- Deves estar a pensar que eu gosto de velhos nojentos, não? Põe-te a andar, antes que eu te parta as fuças! – disse empurrando-o contra a porta.
Sem me dirigir mais palavras tira a mão do bolso. Nos punhos tem uma soqueira com me atinge três vezes, deixando-me no chão inconsciente.