10.30.2004

Estou bem, não te preocupes....

Viajo sem rumo num Cadillac azul céu descapotável, enquanto ouço um balada dos led. Vejo ao longe, por entre a névoa da radiação, um vulto escuro com uma farpa a sair da cabeça. Continuo a aproximar-me e espera lá, não é uma farpa, é uma pena.... Será um indígena? É melhor parar para averiguar.
- Sir, need a ride?
- Very kind, but no thanks, this is my apache duty.
Arranco suavemente sem engrenar nenhuma mudança, o meu Cadillac tem caixa automática. Centro as rodas back on the road e deixo-me perder no pensamento. Que frontalidade tinha aquele índio. Que certeza da vida... Num rasgo de sobriedade passo os olhos pelos indicadores do painel e vejo o ponteiro da gasolina encostado assustadoramente. Passei a última bomba já a uns bons 300 km. É melhor parar na próxima. Se lá chegar. Já? Foda-se, ainda agora pensei na merda da gasolina e já me fodi.
Estou no meio do nada, sem mapa, sem água e sem gasolina. Tudo o que tenho é mais duas gazuas. Lembro-me do índio. Inspiro-me no seu olhar e parto à procura não sei bem do quê. Defino prioridades. Água, gasolina, mapa. Paro para acender mais uma. Foda-se, não pode ser, o caralho do índio outra vez!! Caminho direito a ele. O índio pára ao meu lado e faz-me sinal para que me sente numa pedra já muito erodida e gasta.
- Sun, i know what you are thinking. You have established this priority order: Water, Gas, Map, right?
- That's right, sir!!!
- So why have you first picked up a joint?
-You would never understand, unless you open your mind.
- Well, I've defined my priorities too, and they are to reach the end of the road, to pray and then to die, but once you've opened up my mind, do you have a mars ?
- No sir, but why?
- Fuck the end of the road, today it is a good day to die.
Esta é uma boa estória para contar nas reuniões de alcoólicos, toxicodependentes, ministros e demais viciados em poder.
Os produtores vinícolas, os cartéis colombianos e o povo português agradecem.